O que você quer? Viver entre dilemas ou responsabilizar-se por uma escolha?

Curso de Filosofia da Espiritualidade em 30 de junho de 2012

Vamos estudar Kierkegaard em Filosofia da Espiritualidade

Em meio a tantas discussões sobre os novos rumos políticos no Brasil e após a realização da Rio+20, na qual se procurou discutir desenvolvimento sustentável, acredito ser bastante oportuno voltarmos às bases filosóficas pertinentes às questões que envolvem liberdade, escolhas e angústia, pois tudo isso faz parte de nosso cotidiano.

No curso de Filosofia da Espiritualidade deste próximo sábado, vamos discutir algumas bases do pensamento de Kierkegaard, considerado o pai do existencialismo. Filósofo cujo pensamento também é voltado à Teologia.

Kierkegaard

Vou apresentar aqui, suscintamente, algumas bases do pensamento deste filósofo e farei uma exposição mais ampla no curso deste sábado.

Liberdade.

Para o filósofo Kierkegaard, se a verdade é subjetiva, a liberdade será ilimitada. Kierkegaard não só rejeitou o determinismo lógico de Hegel, para o qual tudo está logicamente predeterminado para acontecer, como também sustentou a importância suprema do indivíduo e das suas escolhas lógicas ou ilógicas. Para ele, qualquer forma de absoluto que não seja a liberdade, contraria a liberdade. Para Kierkegaard é mesmo impossível que a liberdade possa ser provada filosoficamente, porque qualquer prova implicaria uma necessidade lógica, o que é o oposto de liberdade.

Outro pensamento fundamental de Kierkegaard é a falta de um projeto básico para a existência do homem, venha de onde vier.

Qualquer projeto para o homem representaria uma limitação à sua liberdade. Entretanto, Kierkegaard também afirmava que a liberdade geraria no homem uma profunda insegurança, medo e angústia. Desta forma, sua crença na necessidade de que cada indivíduo faça uma escolha consciente e responsável tornou-se outro pilar do pensamento existencialista.

Angústia.

Kierkegaard sentiu a necessidade de ampliar para a esfera do entendimento mais profundo da alma – o que hoje se acha no campo da psicanálise – suas idéias a respeito da filosofia da liberdade. Sabe-se que Nietzsche o leu, seguido  de Freud, resultando dessas leituras novas visões em filosofia e conceitos importantes em teoria psicanalítica.

Em “O conceito de angústia”, Kierkegaard disse que a liberdade gera no homem uma profunda insegurança, grande medo e angústia. Ele focaliza a angústia, como medo do indefinido e do desconhecido, algo diferente do medo e do terror diante do perigo conhecido, como por exemplo, o medo e terror que deriva de uma ameaça objetiva  (um animal, um assaltante, etc.). Esta é talvez a primeira obra escrita dentro de um prisma psicológico existencial, pois discorre sobre um sentimento que não tem um objeto claro, visto ser de natureza subjetiva.

Quem já não se sentiu angustiado diante das inúmeras possibilidades que a existência oferece? A liberdade presume possibilidades, e as possibilidades criam a angústia, seja porque estão escassas ou, no outro extremo, porque existe um número muito grande de opções. Uma sensação caótica pode se apoderar do indivíduo, tanto por muitas opções, quanto por poucas possibilidades.

Quantos jovens não se sentem inseguros quanto a qual tipo de carreira abraçar? Quantos adultos ainda não sabem qual rumo profissional seguir?

Em “Risco e Incerteza” Kierkegaard diz que cada decisão é um risco. A pessoa sente a si mesma rodeada e plena de incertezas. No entanto, ela decide. Existem possibilidades reais e qualquer filosofia que as negue é opressiva e sufocante.

Para o filósofo, o indivíduo sente angústia e o pavor diante da liberdade em relação às possibilidades que tem a sua frente, pois não tem consciência de sua natureza multidimensional que se abre às mais diversas perspectivas. O homem não é apenas um ser biológico que tem uma mente. Ele “é”, tem um “Eu” que é apenas seu. Não adianta para este ser querer ser “igual” a esta ou àquela pessoa ou celebridade…ou líder empresarial ou espiritual. Não. Isto porque enquanto a pessoa não se apossar de si mesma e tomar consciência de quem verdadeiramente é, vai “patinar” por muito tempo… sem rumos, sem identidade,  precisando se definir pela validação do outro; o que lhe trará um prejuízo constante com vistas à aniquilação do ser.

Igualmente, o homem não sabe que sua natureza é tanto espiritual quanto material, o que faz toda a diferença e dá noção de realidade.

No desespero de não saber quem é, o homem quer se livrar de si próprio, pois não tolera  nem a si mesmo.

É curioso hoje, na pós-modernidade, ouvir-se tanto esta declaração: “Você precisa se reinventar”… Parece que precisamos ouvir Kierkegaard. Como podemos nos reinventar se nem sabemos ainda o que somos? Vamos reinventar o quê?

São frases assim, vazias, que têm levado pessoas a muita angústia existencial. Não sabem o que fazer consigo mesmas e com sua existência.

Desafio, provocação, rebeldia, oposição.

Kierkegaard, também nos apresenta em seu trabalho, outras idéias, envolvendo o desespero do desafio, da provocação, da rebeldia, da oposição. Para ele, o ser humano, consciente do eu interior e desejando afirmar esse Eu,  entra em desespero também quando avista  suas limitações. Não reconhece a relatividade e a dependência última do Eu humano perante Deus.

Realmente, hoje nos são vendidas as seguintes idéias “motivacionais”: “Você consegue tudo!”… “Vai que o céu é o limite!” …  Quando percebe que a realidade não é bem isso, a pessoa se sente enganada, ela não é um deus todo poderoso, é só um ser humano, com fraquezas e fragilidades.  Talvez nesse instante de consciência da própria limitação, a pessoa possa obter  aprendizado sobre quem é de verdade, sair das fábulas e lendas pessoais e se enxergar.

Encapsulamento ou má fé.

Kierkegaard fala que a pessoa pode passar da ignorância confortável para a autoconsciência e que isto pode lhe trazer pavor, ou ansiedade. Procurando que estilo e estratégia uma pessoa usa para evitar a ansiedade, Kirkegaard nos faz ver como essa pessoa está escravizada por suas mentiras sobre ela mesma e para ela mesma. Uma forma de fuga é ignorar o próprio eu, tornar-se um autômato ou apegar-se a um papel. Outra forma é se mascarar. Sobre isso vemos que hoje, o facebook e as mais variadas mídias, podem servir de suporte para que as pessoas se escondam atrás das aparências… Muitas criam, inclusive, perfis falsos, nos quais a falsidade ideológica pode ser crime.

Quanto medo de aniquilação não somente traz sofrimento quanto também leva ao adoeceimento a pessoa que não tem consciência de si mesma? Os problemas podem vir tanto em termos subjetivos quanto objetivamente, na realidade cotidiana (trabalho, estudos, finanças, etc.)

Em “A doença para a morte”, Kierkegaard também nos lembra que nossa maior dificuldade não está no fato de termos  um Eu. Ele também nos lembra que não é porque o “sabotamos” e não nos tornamos “amigos” desse “eu”, que os problemas ocorrem. Para ele, ocorre algo ainda mais abrangente, muitas vezes, pois nem ao menos  validamos nosso “eu”. Não achamos que merecemos tal lealdade…

Desta forma, vamos perdendo o eu interior mais profundo, mais verdadeiro, vamos perdendo a ressonância com o que somos. Vamos direcionando nossa pouca energia disponível para atividades exteriores que camuflam a existência de um vazio interior e se apoiam no prazer e na sensorialidade máxima como proposta de vida.

Quer exemplos disso tudo? Assista TV, veja novelas, leia revistas sem questionamento e vigilância sobre o que está sendo “vendido” para você.

Dessa forma, estudar Kierkegaard – hoje – é algo importante, diria até, urgente. Tomar consciência da própria existência é algo sério. Se você não entrar nesse nível de aprofundamento, vai viver a vida do outro, o que é grave… vai copiar modelos que não são sustentáveis para você; vai fazer péssimas escolhas.

Para Kierkegaard, se você insistir em permanecer inconsciente de suas reais possibilidades, você será como uma criança que que cria justificativas para negar seus próprios erros… amparando-se sempre nos outros, para permanecer impedida de pensar por si mesma, sem sustentação interna e autoconfiança diante da experiência da vida. Em resumo, quer ser conduzido?

Maturidade.

Kierkegaard é um filósofo que nos mostra o que é uma pessoa madura.  Para ele, pessoa realmente saudável e amadurecida é aquela que transcendeu a si mesma despindo-se das mentiras do caráter; buscando a verdade de cada situação e, principalmente, dizendo “não” a toda forma de condicionamento:  tanto mental quanto espiritual. Para ele, O amadurecimento requer da pessoa o reconhecimento da sua realidade:  seus verdadeiros dons, talentos e limites.

Te espero no curso. Vamos aprender a pensar de um modo mais sustentável e equilibrado e agir com mais consistência.

Data: 30 de junho de 2012

Horário: das 13h às 18h

Rua do Bosque 1589, cj 608 sexto andar – Edifício Pallatino – Barra Funda

Preço: R$130,00 (5 horas de curso, com coffee-break, apostila, certificado)

Um abraço, com o desejo de te encontrar para aprendermos a fazer boas escolhas e a trabalhar nossa angústia diante da vida,

Marc André da Rocha Keppe,

Psicanalista – Mestre em Psicossomática pela PUC-SP e atualmente doutorando em Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia Clínica da USP.

Meu telefone e e-mail: (11) 3872-7572  // markeppe@usp.br

 


 

 

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